Certo dia, ganhei uma viagem a Paris, na compra de umas frigideiras. Instalado e passeado, apesar de ter achado a comida péssima e os franceses antipáticos, decidi procurar algo nocturno que me trouxesse laivos da doçura cinzenta dos filmes parisienses que vira na TV.
Fui a um cabaret, portanto. Mamas e charutos, era o que tinha dentro dos olhos. Mas, de ambos os artigos, os charutos ainda eram os menos decadentes. Inesperadamente, os rufos no palco cortaram a letargia do ambiente.
“Madames et Messieurs, directement du Portugal, le magnifique, l’unique, la légende, Joséph Cassetout!” A minha alma de português despertou de imediato: “F…-se, nem em Paris um gajo se vê livre de tugas especialistas em números de magia. Ainda se fosse em Bruxelas, percebia-se!”
O Grande Joséph irrompeu no palco, ao melhor estilo do wrestling spaghetti, 1,65m de gente, cabelo Olex, patilhas à bruta, envolto numa capa vermelho-benfica, seguido da sua partenaire. Deu duas voltas ao minúsculo palco, agradecendo os aplausos artificiais que saíam do sistema sonoro.
Quando descerrou a capa, revelou o seu físico trolha e quarentão, com um babete de pêlos e um ventre dilatado pela acumulação de gases e cervejas. Vestia uma espécie de boxers, também vermelhos, com uma braguilha dourada(!)
A assistente montou uma mesinha na boca do palco, esticou a toalha (vermelha, claro) e alinhou horizontalmente 3 nozes. O Grande Cassetout, com um ar meio envergonhado, viu a partenaire abrir-lhe lascivamente a braguilha. O Joséph, corado pelas luzes, sacou do seu marsupilami, alinhou-se com a mesa, fez pontaria, e, Trau! Trau! Trau! Estilhaçou as nozes de forma irreparável. 15 segundos de estupefacção suspensa, e explosão de aplausos (das 15 pessoas que lá estavam). Espectáculo apoteótico. Isto sim, era Paris. Isto foi há 25 anos.
O ano passado, ganhei uma viagem ao México, na compra de umas frigideiras (não, não eram vermelhas). Instalado e passeado, apesar de ter achado a comida péssima e os mexicanos americanos, decidi procurar algo nocturno que me trouxesse laivos do picante colorido dos fimes do Cantinflas que vira no Cine-Esplanada.
Fui a um saloon, portanto. Tinha deixado de fumar, por isso mamas e mezcal eram as únicas coisas que me apetecia ter na boca. De repente, rufos. Tal como da outra vez.
“Damas y caballeros, directamente de Portugal, el famoso, el magnifico, el misterioso, Joselito Matacoco!”
“Não! Não pode ser! Um déjá-vu! Em Paris, ainda vá, agora aqui…”
O Grande Joselito, amparado pela partenaire bastante mais nova, entrou em palco envolto na sua capa heróica. O cabelo era invisível, o físico tinha umas pregas evidentes, a pelagem já tingida de branco, mas, apesar da mascarilha (vermelha, pois claro), o nosso amigo da braguilha dourada era o mesmo Grande Joseph de Paris.
A assistente alinhou os materiais tal como no número que eu já havia assistido, só que, desta vez, os objectos dispostos eram 3 cocos e não nozes. O José aguentava-se, algo parkinsónico, esperando a sua entrada em acção. A generosa sócia foi-lhe roçando a braguilha, arejando-a com volúpia e mostrou a luz do dia ao quebra-nozes (claro que há uma versão XXX deste filme, mas os meus filhos costumam passar por aqui…). O indómito artista, agarrou na cenaita, Tum! Tum! Tum!, três machadadas letais nos cocos que se estilhaçaram e derramaram pela cena. O saloon veio abaixo com a proeza e o trémulo madeireiro retirou-se debaixo dos olés do público.
Dirigi-me de imediato a uma muchacha do bar para saber como poderia encontrar os camarins dos artistas. Queria cumprimentar o meu patrício José. Ela, com mais uns pesos entre as belas luas, conduziu-me num labirinto esconso e malcheiroso, até chegar a uma porta com uma estrela, como nos filmes.
Bati, a partenaire, já sem a peruca, abriu-me a porta e eu expliquei-lhe que era tuga e queria felicitar o conterrâneo. O big Zé estava sentado numa cadeira de barbeiro, com um saco de gelo em cima do orçamento geral do estado.
“Meu amigo”, vociferei eu, “vi-o há 25 anos a actuar em Paris, e já na altura fiquei impressionado com a sua capacidade. Agora, 25 anos depois, venho encontrá-lo aqui – desculpe a indiscrição, mas você deve ter já perto de 60 anos,não? “73”, respondeu – ainda fazendo o mesmo número, só que com cocos! Deus meu, como é que consegue?”
Com um ar modesto e atrapalhado, o amigo Zé respondeu:”Pois é, amigo, é a vida. Sabe o que é, é que a vista já não é a mesma…”
Para conhecerem um primo e émulo do Grande Arrebentador de Cenas, ide ver este vídeo.
AH, AH, AH, AH!!!!!
AI, QUE SE ME ESGAÇA A BUFA, AHAHAHAHAHA!!!!