Não resisti a pilhar isto daqui, primeiro, porque o gajo escreve bem p’a caroço, segundo, porque hoje é domingo e é dia de roubar fruta. Terceiro, porque com este calor e as mamas, rabos e umbigos que andam por aí, só se consegue pensar em educação sexual.
Quem protege os jovens da protecção?
“Diz o lugar-comum que a adolescência é uma época de descobertas. O lugar-comum é muito vago. Dá a entender que são descobertas como as dos nossos navegadores, aventurosas e excitantes. Não são. São descobertas maçadoras. Do top das descobertas da minha adolescência, destaco a vez em que descobri uma borbulha no nariz. A vez em que descobri uma borbulha no queixo. Não esquecer também a vez em que descobri uma borbulha no nariz e outra no queixo. Ou quando descobri que a minha voz não era bem minha: às vezes era de um senhor que bebia muito bagaço, às vezes de uma menina de cinco anos. Com borbulhas.
Mesmo as descobertas agradáveis só o foram por alguns instantes. Perto dos 14 anos, descobri o sexo e fiquei maravilhado. O êxtase durou três minutos, que foi o tempo que levei a descobrir que, sim, existia o sexo, mas tão depressa eu não o ia desfrutar (obrigado, Ana, por teres sido tão clara). Portanto, perto dos 14 anos e três minutos descobri que a adolescência ia ser penosa. Ainda bem que, nessa altura, não se punha a hipótese de haver uma máquina de preservativos na escola. Só ia servir para me lembrar o que andava a perder. Os meus amigos a gastar a semanada em contracepção e eu a esbanjá-la em gordurentos croissants mistos. Que causariam a acne que me afastaria ainda mais da hipótese de um dia vir a iniciar-me sexualmente.
Para uma data de borbulhentos juvenis, disponibilizar preservativos na escola é como dar bons bifes a velhinhos sem dentes. É maldade. Para outros, é uma maneira de aumentar a assiduidade. Se, para terem acesso aos preservativos, tiverem de entrar na escola, é possível que, já agora, aproveitem para assistir a umas aulas.
Não foi por não ter acesso a preservativos que eu passei os anos do liceu na mais contrariada virgindade. Foi mesmo porque nenhuma rapariga quis, digamos, ajudar-me. Naquele tempo, tal como os preservativos hoje em dia, as raparigas também estavam disponíveis. Não queriam era nada comigo.
Quem diz que o acesso fácil a preservativos é um convite ao sexo não conhece adolescentes, indivíduos naturalmente mal-educados que não precisam de ser convidados para fazer seja o que for. Além disso, é preciso dizer que passei a adolescência com um preservativo na carteira e nunca aconteceu nada. Minto: não foi um, foram vários. Acompanharam-me à medida que fui perdendo a esperança e eles a validade. Sentia-me como um tipo que levava um par de esquis para o deserto, na expectativa de que, um dia, quem sabe, nevasse nas dunas.
Tinha um preservativo para a eventualidade de deixar, de um momento para o outro, de ser um adolescente esquisito de quem as raparigas só queriam ser amigas. O látex era só a minha segunda barreira de segurança. A primeira era o facto de eu ser tão choninhas.
Nunca é demais insistir na segurança que um preservativo confere a quem tem relações sexuais. E não só. Mesmo a quem não as tem. Durante a puberdade, tive sempre o tal preservativo no bolso das calças e a verdade é que não apanhei nada. Nem um esquentamento, nem uma gravidez indesejada. Nem um reconfortante tapinha nas costas, a desculpar precipitada e insuficiente performance. Coincidência? É provável que sim.
É por me lembrar dessa altura que tenho pena dos miúdos que vão passar pelas máquinas de preservativos, todos os dias, sem precisar de as usar. Não estão protegidos contra a protecção. Quem não fizer uma compra amiúde vai ser gozado. Por não gozar. O melhor é ir adquirindo alguns, de vez em quando, para disfarçar. A princípio não vão ter uso para eles. Mas no Carnaval vão dar vazão. Como balões de água, claro. Isto não é o Brasil, onde até um choninhas se safa no Carnaval.”
Publicado em 31.05.2009, por José Diogo Quintela, no Público
0 Response to "Educação Sexual, é mesmo preciso?"
Enviar um comentário