PERTENCERPorque o gajo faz anos, porque há talento na escrita, e porque é meu irmão, não resisto a citar mon petit frère, Vareta san:
"(...)não encaro Tomar como
a minha terra mas sim como
a terra de onde eu sou. Em Tomar, nada me pertence, à excepção de uma terça-parte da casa paterna em futuras (e queira Deus que bem distantes) partilhas. Sou eu que pertenço a Tomar e invade-me um orgulho estranho e difícil de explicar de cada vez que lá chego e penso que é dali que eu sou.
Durante 18 anos vivi ali todos os dias (ou quase) e pude ver uma cidade a crescer com calma, aprendi-lhe os horários, conheci-lhe cada rua, fui sendo moldado por aquele espaço. Há já 9 anos que moro em Lisboa, mas é de Tomar que eu sou - é uma condição imutável, uma segunda pele.
Não quero escrever um panfleto turístico ou exortar quem se sacrifica a ler isto para visitar aquela cidade. Só queria mesmo confessar esta existência de uma qualquer parte de mim que foi criada por Tomar. Não acho que me tenha feito melhor ou pior, apenas contribuiu para me fazer assim.
É uma parte feita dos fins de tarde com mães a passearem crianças que foram buscar à escola. Dos pequenos rituais do passeio pela Corredoura. Das escolas, dos colegas, dos amigos, dos vizinhos. Dos cafés e dos bares. Das Bandas Filarmónicas no Coreto. Das visitas ao Castelo e Convento. Das bibliotecas. Dos jogos de hóquei em patins. Da Mata dos Sete Montes. Das aulas perdidas para ficar à conversa. Do Bolo de Bolacha do Snack-Bar "Cristina". Da Feira de Santa Iria. Da montra da loja de brinquedos. Da minha rua. Da minha casa.
Não sei se Tomar precisa ou não de mega-concertos, mas sei que eu preciso dela, de saber que está ali e que vai guardando a minha história."
Domo arigato, mano. Estás cá.
Numa leitura apressada podia soar como "tomaras tu" - mas não. O que eu quero dizer é "Tomar és tu", pá. Daí a vantagem da grafia - assim como assim, a linguagem é só um gozo, nada quer dizer nada (nem mesmo "nada"), e quem leva este mundo a sério ou tem um sentido de humor muito twistado ou bebe muita água da torneira naqueles sítios onde se fabrica esse mal terrível que é a droga...
Fazes tu ideia, ó Vegeta, do formigueiro por Tomar que os teus 14 anos a mais me davam? Fazes ideia do que foi entrar pela primeira vez no D'Arco, no Pepe, no Capítulo, no Pim Pim e sentir que estava a crescer porque já ía aos sítios onde o meu irmão mais velho (e o orgulho que vai com esta expressão...) também tinha ido?
Havia (e há) em ti - e na tua gera - o ar de quem gostava dos dias. E das noites. E das horas sem nome entre uma coisa e outra. Entre uma colherada ou duas de Nevrovitamine Granulado, eu também gostava dos dias a jogar às caricas - e fosse do fenobarbital ou da cabeça ameloada ou do atraso que o Dr. Brito oportunamente diagnosticou, havia uma espécie de presciência do que iria ser. Sem pressa nenhuma. E foi. E tem sido.
Não li a cartilha toda mas aprendi umas coisinhas com o verdadeiro Che Guevara do proletariado estudantil. Low profile, eu; talhado para o palanque, tu; antes como agora.
Isto do tempo, para mim, não tem valor nenhum. Fazer corresponder números a ritmos é, também, um gozo - e uma soma de abstracções em que alguns insistem em encontrar "exactidão". Quantos "anos tenho" é coisa que me não importa nadinha. Há vários que tu me deste e há a tua presença neles todos e a presença de quem tu trouxeste e cá está.
Omedeto gozaimasu para ti também.
Abraços.
Ganda irmão pah! Quem diria que o puto que nos olhava desconfiado, afinal ia dar num pintas destes! Apontava tudo é o que era... e agora faz babar o irmão mais velho, que já não sabe se a baba é do orgulho ou da idade avançada! Ganda puto!