Ali em baixo fiz referência a um amigo, o PM, que tenho particular orgulho em que me chame o mesmo. Se há coisa em que tenho alguma vaidade é acreditar que os putos e pitas a quem tenho dado aulas terem aprendido algumas coisas valiosas comigo. E essas coisas não têm a ver com a "matéria" que também lhes enfio na corneta, mas sim com as experiências de vida que partilho com eles.
A "história do meu amigo Mertolas" é um clássico das minhas aulas e conto-a sempre que acho que algum dos meus súbditos precisa de um estímulo extra na auto-estima e auto-confiança ou de um estalo na consciência do seu valor.
Com as minhas desculpas ao biografado por me atrever a ter opinião sobre ele e a expô-la para outros, resumo-a aqui.
Tenho um amigo que, durante o tempo em que andámos na escola, aproveitou-o todo para fazer e aprender tudo o que a escola tem para ensinar. Tudo, excepto estudar. Não me recordo de nenhuma disciplina em que o M não tivesse que fazer recurso aquele tipo de inteligência superior que nos permite desenrascar as coisas e das coisas, mesmo que não façamos ideia nenhuma que coisas são essas. Este meu amigo, desde sempre nos habituou a esse talento especial que poucos detêm. Há muitos exemplos da sua inteligência e criatividade para esdrublar a burocracia e a tecnocracia que forram os bancos da escola, mas a mais deliciosa, para mim, foi a forma como o M cumpriu uma tarefa decisiva para atribuição da nota final do período em Ed.Visual.
As instruções da professora eram claras: desenho efectuado com círculos e rectas, utilizando compasso e tira-linhas, pintado a guache, usando 7 cores. O M, que já tinha gasto a coroa toda nos carrinhos de choque, que já tinha marado o compasso ao sacar-lhe a ponta para poder picar os adversários nos jogos de andebol, e que não tinha guaches porque não gostava do sabor, lá cravou uma folha de papel cavalinho a uma tansa qualquer e pôs-se a olhar para a folha a ver se ela o ajudava. De repente, o sorriso saltou-lhe para a cara, virou-se para mim e pediu-me um pincel e um guache. "- De que cor man? Isto é para levar 7 cores". "- Deixa-te de merdas, dá-me aí um qualquer". Dei-lhe o laranja. O M foi encher um godès com água (tendo aproveitado para revolver a tranquilidade da aula), e regressou ao lugar. Trincando a língua, profundamente concentrado, deu início à sua tarefa. Acabado o trabalho, executado de forma rápida e precisa, esperando que os mais marrões e ajeitados fossem entregando os desenhos à stôra, chegou o momento D: de olhos lacrimejantes, quase a fazer beicinho, o M, com a folha a pingar, depositou-a em cima da secretária da prof e lamuriou: "- Stôra, olhe aqui o que o (já não me lembro quem foi a vítima) me fez ao desenho! Estava a pintar e ele empurrou-me e entornou-se tudo para o desenho e eu enervei-me!"
A prof olhou para o "desenho", uma folha monocromática totalmente preenchida com líquido cor-de-laranja.
A stôra fez-lhe uma festinha nos caracóis e disse-lhe ternamente condoída: "Deixa lá, não faz mal". Ele teve 10 no trabalho. Eu tive 7.
Mas já me estou a desviar do motivo pelo quel gosto de apresentar o M como exemplo aos meus alunos: apesar de ser um aluno fraco nas notas e forte na inteligência, sempre que metia na sua vontade fazer alguma coisa, essa coisa fazia-se, e com brilho:
Jogos sem Fronteiras, "- Eh pá, eu seja ceguinho se eu não vou lá!
- Tu és mas é maluco! Para além de estares magro como um cão.
- Ah é? Vais ver man! Ainda vou aos Jogos olímpicos de Antenas!
E foi. Trabalhou como um moiro, inchou como se tivesse tomado esteróides, e foi. Sofremos um bocado (célebre o concerto dos Camel que não houve, em que o M, que nunca apagava a luz verde, acordava e nos acordava, às 4 da matina, para fazer flexões e abdominais), mas deu-nos muito gozo ver o M a representar-nos.Quando ele saiu dos jogos fomos logo representar-lhe uma, por não nos ter deixado ficar mal.
Curso profissional, não vem ao caso dizer de quê: disciplina-chave para a obtenção do curso - Inglês. O M, a Inglês era tão bom como outro colega famoso, José Sócrates. As nossas expectativas eram de que o M. aparecesse na semana seguinte, chateado com o chumbo cámone, e de preferência com um plaquet lá de baixo no bolso, para derretermos as tristezas. Resultado: 20!
Por isso, CS-TNK, te indico sempre com muito orgulho como exemplo de que, se quisermos mesmo, conseguimos sempre encontrar o que procuramos,se não nos esquecermos que andamos à procura.
Abraços man, no spingles!
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