Os meus apoderados, de 11 e 8 anos, têm vindo a tentar convencer-me a levá-los a assistir ao concerto dos Mind da Gap na nossa terrinha. Eu aos 11 anos sabia lá o que era um concerto... Se soubesse também quereria ir, acho eu. Estou bem capaz de ceder e levá-los lá, só para os ajudar a interpretar a música. Por outro lado, num concerto onde não se pode fumar e se calhar nem beber, as pessoas riem-se de quê?
Estive a ler o meu confrade A Besta, e depois de ter parado de rir, pus-me a pensar sobre o que senti quando lá voltei a entrar, há tempos atrás, numa condição diferente daquela em que lá continuei a ir desde os 18 anos: a de eleitor (enganado, roubado e enrabado, não poupemos nos adjectivos). Quando me dirigi ao gabinete do Cons.Directivo, sorri ao pensar a quantidade de vezes em que fui, acompanhei ou esperei alguém, aquela porta da toca do bicho mau. Vidros partidos por desamor ou acidente, banhos voluntários ou forçados no tanque, ofensas graves ou birras (geralmente dos professores), pastilhas no cabelo, porrada no pelo, ameaças de greve ou reivindicações... o cardápio de motivos que nos levava a visitar o justo homem que lá mandava era fino e sortido.
Enquanto me apresentava, e no percurso acompanhado até à sala em que iria dar a 1ª aula (como se houvesse algum sítio naquele Liceu que eu não conhecesse), ia pensando “eu nunca mais na vida me vou sentir professor aqui dentro. Continuo a olhar para esta escola e para as pessoas quase como aluno”. Nesse mesmo dia tive a primeira repreensão por estar a fumar no intervalo juntamente com os alunos.
Claro que a austeridade e o usufruto energético que nós dávamos aos equipamentos implicava alguma frugalidade e despojamento que já não está presente no Liceu de agora, muito Morangos com Açúcar. Mariquices como placards com informação e exposição de trabalhos, matraquilhos, televisão e 1CABINE DE RÁDIO (invejosos de merda), salinha sempre decorada à época, nenhum fumo no ar, são pormenores que só estragam o ambiente de que eu gostava: fumos no ar, a música eram as bocas que se mandavam, jogava-se ao alho com taxas de 90% de humidade para os acidentes poderem ser mais espectaculares, os poucos placards existentes eram fixes para nós escrevermos e por isso foram retirados, os matraquilhos eram os gajos mais pequenos, mais toscos ou irritantes, e a única vez em que a sala teve um arremedo de decoração foi quando pendurámos camisas de vénus cheias de água ao longo das janelas. Aquilo que hoje seria considerado topo de gama na criatividade, com claras aplicações ao nível da educação sexual e prevenção da sida, foi na altura barbaramente atacado e merecedor da mais veemente repreensão. O que na época foi por nós suportado com mais um encolher de ombros e os tais piretes dentro das calças de que fala A Besta, hoje talvez desse para requerer uma indemnização à escola por danos causados à criatividade e capacidade de intervenção social.
Depois admiravam-se que explodissem bombas!
Descrição espectacular da mutação das sensações num mesmo ambiente, agora lavado da naturalidade de outrora, mas bem carregado com as regras de quem não tem nada na mona. Sem dúvida que o edifício é o mesmo, mas como dizes, falta-lhe a alma! A bomba, vou ter de a desmontar ah pois vou...Já vou à procura do caderno enrolado com os planos da bomba...
Mario meu amigo de sempre,
Dos seis anos de bata branca sempre lá muito á frente, foste sempre o melhor . Eu é que não consegui a tua pedalada pois fui mais fadio menos nos momentos mais academicos! Grande amigo de antes da ponte velha. Era assim, grandes e sempre assim da mesma maneira, sem ser facil de compreender.
Paulo Martins