INFÂNCIA#1

Publicada por Marinho em 29 - Mar - 2009

Uma infância feliz dura a vida inteira

RECREIO

Publicada por Marinho em 31 - Mar - 2009

Recreius Vulgaris numa Escola Masculina

HI-TECH 1

Publicada por Marinho em 6 - Abr - 2009

Às armas

HI-TECH 2

Publicada por Marinho em 8 - Abr -2009

Caça grossa

Vick e o Grande Rapto

Publicada por Marinho em 9 - Abr - 2009

Actividades de tempos livres

OMOMV, o Planeta Rock

Publicada por Marinho em 15 - Abr - 2009

Eu, com o casaco assertoado do casamento do meu pai, o Slowhand e su camisa blanca, os outros, pelo menos penteados iam, o Rollerando a cavalgar o bacalhau e o Violinha a olhar para cima, concentrado, a ver se ouvia algum helicóptero

Strange, o Plutão do Rock

Publicada por Marinho em 16 - Abr - 2009

O sucesso dos OMOMV, apesar de meteórico e sobretudo metafórico, deixou-nos inebriados. Afinal aquilo de ser rockstar não tinha nada que saber: um par de tintins, uma cena qualquer na mão para não coçar os tintins, uma grade de minis e duas charruas.

Pessoa...

Publicada por amarelo On 31.3.09 3 comentários
"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

(Fernando Pessoa)

O Gajo 'Tá Grande, Pá

Publicada por Marinho On 31.3.09 0 comentários

Delay Effects With Afection

(fade in).... Happy happy happy birthday, happy happy (delay) (very delayed) (sleeping)... TO YOU! (fade out)

Temos muitas saudades de ti e não é só por saberes fazer sushi. Saudades, brother. Até breve. E os coureanhos, já é oficial?

Clube de BildCarlsberg e Superbock

Publicada por Marinho On 31.3.09 2 comentários


07 - Lunar Sea.mp3


'aína fresquinha, gringas lavadinhas...

Recreio

Publicada por Marinho On 31.3.09 0 comentários

Os recreios, os intervalos, são o único factor absolutamente indispensável no sistema de ensino. Aliás, arriscando um tiro mais longo, pode dizer-se que são o único factor indispensável para termos uma vida (viva o ateísmo hedonista, caray!). Sendo esta uma verdade axiomática, não poderia deixar de recordar os meus Recreios nestas páginas de “literatuta” para dormir (com vénia ao prof. Fifi, vizinho de outro grande vulto da língua portuguesa, Douttore Callippo, que inventou a palavra “pinhales” quando tinha apenas 10 anos).

Os nossos recreios eram vulgares. Para uma Escola Masculina, claro está. Concursos de mijar longe, subida/descida acrobática voluntária ou sob ameaça, às árvores (o nosso recreio tinha pelo menos, que me recorde, 7 árvores!), jogo da apanhada gigante (todos a correr e a fugir e a apanhar e a correr... Todos, éramos para aí uns 80!), futeboladas já muito bem esgalhadas, calhoada na modalidade sniper ou combate aberto, resolução de duelos empolgantes (o Bigodes contra o Chico Faia, o Rui Mau contra o Teodoro...), aprender a dizer caralhadas com os mais velhos... Era uma vida ocupada e que reflectia a enorme energia física e mental que nós albergávamos.

Alguns dos acontecimentos vividos trazem-me a sensação das coisas inolvidáveis, daquelas que, mesmo carregadinho de Alzheimmer, agradeço que me recordem para eu me lembrar quem sou:

· O primeiro assalto organizado e condenação por associação criminosa: na altura em que o hype era “jogar aos cóbois”, o recreio dividia-se em índios e cóbois. Nós (que me recorde, o Ourx, o Vital, o Lippo, o Janita, o Mertolas, o Estrondoso, eu...) éramos dos índios. Um dia os cóbois chatearam-se connosco e acabou-se a brincadeira. Que fazemos, o que não fazemos... e alguém se chegou à frente com a ideia salvadora: – Boraí assaltar um rancho!

– Ia c’um caraças, ganda ideia!

Organizámo-nos, pusemos os lenços a tapar a boca e trepámos o muro que separava o recreio. A invasão foi maciça, barulhenta e suficientemente rápida para não sermos flagrados. Não houve vítimas mortais, uma vez que aquela era apenas uma acção de sensibilização, mas os patos e as galinhas cumpriram de forma histericamente irrepreensível o seu papel de seres de escalpe ameaçado. Quando entrámos na sala, findo o recreio, ainda com algumas penas presas na roupa (melhoravam o disfarce), o senhor professor perguntou se ninguém queria contar nada. Numa turma em que contar mais do que 1 já era um risco, ninguém deu passo nenhum para o abismo. Mas ele estava mesmo ali à nossa frente. “ – Então quem é que foram os engraçadinhos que foram ao quintal da D.Ernestina? – “ Silêncio pré-catastrófico e uns quantos rostos enrubescidos pela falta de patine no couro bem batido. Claro que a PIDE do sector Bairro Salazar (óbvio!) já tinha bufado tudo. As penas na roupa também não ajudaram. Aquilo que era o germinar de uma consciência multicultural e, quiçá, um prenúncio do 25 de Abril (estávamos em 1971), foi sumariamente resolvido a cachaço e estaladão pela força reaccionária do professor. Nessa altura, não só não pusemos nenhuma bomba como achámos que o professor até era capaz de ter um cochinho de razão. O que a ignorância faz ao proletariado...


· A propósito de bullying, na senda do confrade Ze Libanho, registo que a partir de dada altura, provavelmente pela discrepância etária e física, dois dos nossos colegas passaram a centralizar e a dominar todos os procedimentos decorrentes de um intervalo: gestão das merendas, da protecção e segurança pessoal, das trocas de cromos, do mercado de pregos, etc. O Rui Mau, de forma mais continuada, e o Martelo (o gajo nessa altura já naitava barbas de milho) de forma mais bipolar, controlavam tudo o que era fixe.

Foi tentando solucionar os problemas que eles colocavam que aprendi as primeiras luzes sobre economia e transacções: quem queria jogar à bola tinha que se encostar à parede, alinhado com os outros candidatos, com a merenda na mão. O Rui Mau, engalanado no seu porte físico e na força do branding, ia indagando os recheios: “ – O que é que trazes? – Manteiga. – Tu jogas!” E sacava-lhe o pão. “ – Tu aí, ó lingrinhas, o qu’é que tens? – Tulicreme. – ‘Tá bem, também jogas. E tu, ó caixa d’óculos (eu)? – Marmelada! – Marmelada é merda!” E sacava-me o pão, atirava-o para o chão e eu ia para uma borda ver o pessoal a jogar. Sem depressões.

Mas um dia a minha costela de Oliveira e Costa retiniu. O pão ia carregadinho de marmelada, só que no bolso ia o antídoto: um brinde do bolo-rei. Uma bruta águia real, irresistível para qualquer pessoa de bom-gosto e que acreditasse no valor das coisas brilhantes (índios, pretos, Manuel Pinho...). Na hora da inspecção diária, ainda antes que ele me pudesse sacar o pão e espezinhá-lo, guinchei: “ – É marmelada, mas tenho isto aqui!” E apresentei-lhe a jóia alada como se estivesse com um crucifixo em frente a um vampiro. Ele sacou (era o seu verbo preferido) o brinde da minha mão, examinou-o e emitiu um prometedor “ – Porreiro, pá!” (Onde é que eu já ouvi isto? Eh pá, não me digas que o Rui Mau é o Sócrates! Com as Novas Oportunidades e tal... O Emplastro também é filho do Pinto da Costa!)

Estava eu já a afiar a moca para ir jogar à bola e ainda por cima comer a merenda, quando o cabrão do Lucas diz ao Rui: “ – Mas tu és do Sporting!”. Jogo abaixo! Fiquei sem o brinde, sem o pão e sem jogar. Foi a partir daquele dia que decidi que ia ser do Benfica para sempre.


· Naquele tempo a América era para nós tão longínqua e depositária de maravilhas, como é hoje o Nirvana ou 100 milhões de euros na conta. Já era uma sorte do caraças poder ver a América na televisão, imagine-se o que seria ir lá. Quando o nosso excelso amigo C (Tio Ho? Descose-te lá, man!) comunicou à maralha que: a) ia andar de avião; b) ia à América, passados os primeiros momentos de sincera inveja e pragas conformes (sortudo do caralho! ganda vaca! fosga-se, mesmo à América?), apressámo-nos a escrever as listas do material pretendido (essencialmente bélico; Escola Masculina, né?).

Ele foi e a espera foi sonhada todos os dias, encastelando os prodígios que o C iria trazer. E veio. E trouxe diversas maravilhas. Para o que nos interessa, uma fundamental: uma bola de futebol americano. “ – Espectáculo! Ia pá! Como é que se joga com isto?”, perguntávamos nós, já na cauda da Europa. “ – Eh pá, isto é com’ó futebol, só que sem chutos. O pessoal apanha a bola e tem que a passar logo, não dá para fazer fintas, porque se não a largar rápido a gente pode cair-lhe em cima. – Fixe! Bora lá jogar!”

E fomos. Como já disse éramos para aí uns 80. Nesses 80 havia alguns gordos, alguns burros e alguns copos-de-leite (o que as nomenclaturas mudam), que eram utilizados quando necessário e marginalizados quando havia algo de interessante. O Jacinto era um dos copos-de-leite. Raramente procurava brincar com a turba e nós esquecíamo-nos piedosamente dele. Ora nesse memorável dia de Superbowl, o Jacinto, frágil e recatadamente abrigou-se junto à porta de entrada para o interior da escola. O C, como dono da bola, teve direito a iniciar o jogo: dois passos antes de se livrar desesperadamente dela face ao avanço do pack adversário (todos os outros); a meloa voadora foi ter com o Alvarez, que a agarrou, virou-se para trás e desfez-se da oval numa hipérbole perfeita e sibilante direitinha às têmporas do Jacinto, o qual caiu redondo e inanimado. A Menina Angélica reanimou-o, tratou-lhe da ferida, e nós, desiludidos por não ter sido preciso chamar a ambulância, regressámos à aula prescientes do sermão. Castigo geral e oval confiscada até final do ano. Depois do professor a devolver não voltámos a jogar: andavam a dar “Os Pequenos Vagabundos” na TV e descobríramos que a irmã do Raúl tinha pelos na crica.

...

Do outro lado do mundo

Publicada por Marinho On 29.3.09 2 comentários

PERTENCER

Porque o gajo faz anos, porque há talento na escrita, e porque é meu irmão, não resisto a citar mon petit frère, Vareta san:

"(...)não encaro Tomar como a minha terra mas sim como a terra de onde eu sou. Em Tomar, nada me pertence, à excepção de uma terça-parte da casa paterna em futuras (e queira Deus que bem distantes) partilhas. Sou eu que pertenço a Tomar e invade-me um orgulho estranho e difícil de explicar de cada vez que lá chego e penso que é dali que eu sou.

Durante 18 anos vivi ali todos os dias (ou quase) e pude ver uma cidade a crescer com calma, aprendi-lhe os horários, conheci-lhe cada rua, fui sendo moldado por aquele espaço. Há já 9 anos que moro em Lisboa, mas é de Tomar que eu sou - é uma condição imutável, uma segunda pele.

Não quero escrever um panfleto turístico ou exortar quem se sacrifica a ler isto para visitar aquela cidade. Só queria mesmo confessar esta existência de uma qualquer parte de mim que foi criada por Tomar. Não acho que me tenha feito melhor ou pior, apenas contribuiu para me fazer assim.

É uma parte feita dos fins de tarde com mães a passearem crianças que foram buscar à escola. Dos pequenos rituais do passeio pela Corredoura. Das escolas, dos colegas, dos amigos, dos vizinhos. Dos cafés e dos bares. Das Bandas Filarmónicas no Coreto. Das visitas ao Castelo e Convento. Das bibliotecas. Dos jogos de hóquei em patins. Da Mata dos Sete Montes. Das aulas perdidas para ficar à conversa. Do Bolo de Bolacha do Snack-Bar "Cristina". Da Feira de Santa Iria. Da montra da loja de brinquedos. Da minha rua. Da minha casa.

Não sei se Tomar precisa ou não de mega-concertos, mas sei que eu preciso dela, de saber que está ali e que vai guardando a minha história."

Domo arigato, mano. Estás cá.

Jogos Olímpicos de Antenas

Publicada por Marinho On 29.3.09 0 comentários
Me, No Spingles

Ali em baixo fiz referência a um amigo, o PM, que tenho particular orgulho em que me chame o mesmo. Se há coisa em que tenho alguma vaidade é acreditar que os putos e pitas a quem tenho dado aulas terem aprendido algumas coisas valiosas comigo. E essas coisas não têm a ver com a "matéria" que também lhes enfio na corneta, mas sim com as experiências de vida que partilho com eles.

A "história do meu amigo Mertolas" é um clássico das minhas aulas e conto-a sempre que acho que algum dos meus súbditos precisa de um estímulo extra na auto-estima e auto-confiança ou de um estalo na consciência do seu valor.
Com as minhas desculpas ao biografado por me atrever a ter opinião sobre ele e a expô-la para outros, resumo-a aqui.

Tenho um amigo que, durante o tempo em que andámos na escola, aproveitou-o todo para fazer e aprender tudo o que a escola tem para ensinar. Tudo, excepto estudar. Não me recordo de nenhuma disciplina em que o M não tivesse que fazer recurso aquele tipo de inteligência superior que nos permite desenrascar as coisas e das coisas, mesmo que não façamos ideia nenhuma que coisas são essas. Este meu amigo, desde sempre nos habituou a esse talento especial que poucos detêm. Há muitos exemplos da sua inteligência e criatividade para esdrublar a burocracia e a tecnocracia que forram os bancos da escola, mas a mais deliciosa, para mim, foi a forma como o M cumpriu uma tarefa decisiva para atribuição da nota final do período em Ed.Visual.
As instruções da professora eram claras: desenho efectuado com círculos e rectas, utilizando compasso e tira-linhas, pintado a guache, usando 7 cores. O M, que já tinha gasto a coroa toda nos carrinhos de choque, que já tinha marado o compasso ao sacar-lhe a ponta para poder picar os adversários nos jogos de andebol, e que não tinha guaches porque não gostava do sabor, lá cravou uma folha de papel cavalinho a uma tansa qualquer e pôs-se a olhar para a folha a ver se ela o ajudava. De repente, o sorriso saltou-lhe para a cara, virou-se para mim e pediu-me um pincel e um guache. "- De que cor man? Isto é para levar 7 cores". "- Deixa-te de merdas, dá-me aí um qualquer". Dei-lhe o laranja. O M foi encher um godès com água (tendo aproveitado para revolver a tranquilidade da aula), e regressou ao lugar. Trincando a língua, profundamente concentrado, deu início à sua tarefa. Acabado o trabalho, executado de forma rápida e precisa, esperando que os mais marrões e ajeitados fossem entregando os desenhos à stôra, chegou o momento D: de olhos lacrimejantes, quase a fazer beicinho, o M, com a folha a pingar, depositou-a em cima da secretária da prof e lamuriou: "- Stôra, olhe aqui o que o (já não me lembro quem foi a vítima) me fez ao desenho! Estava a pintar e ele empurrou-me e entornou-se tudo para o desenho e eu enervei-me!"
A prof olhou para o "desenho", uma folha monocromática totalmente preenchida com líquido cor-de-laranja.
A stôra fez-lhe uma festinha nos caracóis e disse-lhe ternamente condoída: "Deixa lá, não faz mal". Ele teve 10 no trabalho. Eu tive 7.

Mas já me estou a desviar do motivo pelo quel gosto de apresentar o M como exemplo aos meus alunos: apesar de ser um aluno fraco nas notas e forte na inteligência, sempre que metia na sua vontade fazer alguma coisa, essa coisa fazia-se, e com brilho:
Jogos sem Fronteiras, "- Eh pá, eu seja ceguinho se eu não vou lá!
- Tu és mas é maluco! Para além de estares magro como um cão.
- Ah é? Vais ver man! Ainda vou aos Jogos olímpicos de Antenas!
E foi. Trabalhou como um moiro, inchou como se tivesse tomado esteróides, e foi. Sofremos um bocado (célebre o concerto dos Camel que não houve, em que o M, que nunca apagava a luz verde, acordava e nos acordava, às 4 da matina, para fazer flexões e abdominais), mas deu-nos muito gozo ver o M a representar-nos.Quando ele saiu dos jogos fomos logo representar-lhe uma, por não nos ter deixado ficar mal.

Curso profissional, não vem ao caso dizer de quê: disciplina-chave para a obtenção do curso - Inglês. O M, a Inglês era tão bom como outro colega famoso, José Sócrates. As nossas expectativas eram de que o M. aparecesse na semana seguinte, chateado com o chumbo cámone, e de preferência com um plaquet lá de baixo no bolso, para derretermos as tristezas. Resultado: 20!

Por isso, CS-TNK, te indico sempre com muito orgulho como exemplo de que, se quisermos mesmo, conseguimos sempre encontrar o que procuramos,se não nos esquecermos que andamos à procura.
Abraços man, no spingles!

Infância #1

Publicada por Marinho On 29.3.09 0 comentários

“Uma infância feliz dura a vida inteira” é uma frase que repito profusamente, nas aulas, em casa, sempre. Veio-me mais uma vez à boca ao ler o comentário do meu querido amigo PM (abração, man) denunciando a brancura da minha bata na Escola Primária Masculina Nº3. Já agora, o facto de estar à frente tinha a ver com o facto de ser cegueta como uma toupeira. Pode assim dizer-se que foi a miopia que me transformou no “marrão” da turma e me desviou da pré-delinquência em que todos os outros já marinavam.

A minha infância foi inaugurada em Lisboa, mas tirando uma queda de um 1º andar para espreitar a Lambretta de uma vizinha (acho que estava apaixonado pela vizinha e não pela mota), queda essa que me permitiu partir os dentes pela 1ª vez, não me recordo de quase mais nada dos meus primeiros anos de vida.

Assim, posso dizer que a minha infância, aquela que eu guardo, começou no 1º dia de escola. Todos de batinha imaculadamente branca e monogramada, penteadinhos e a estrear sapatos novos, acompanhados das respectivas progenitoras, conduzidos pela menina Angélica, íamos entrando mais ou menos receosos numa sala de aula que, aos 6 anos, me pareceu enorme. O senhor professor (na altura as pessoas tratavam-se por extenso, não havia cá modernices nem abreviaturas), imponente, voz rija, explicava-nos que a nossa vida passaria, a partir daquele momento, a ser governada pela Carolina: uma régua de mogno, com diversos entalhes relativos às vítimas abatidas, com cerca de 50 cm de comprimento por 3 de espessura e 2 kg de peso. Os critérios de avaliação foram-nos muito bem explicados: quem der mais de 2 erros no ditado tem um spanking date com a Carolina; quem errar nas contas, pagará o prejuízo com as palmas das mãos; quem mijar fora do penico, arrisca-se a conhecer todo o arsenal do senhor professor: a já citada Carolina, uma cana de longo alcance, a pinça de orelhas e o poderoso estaladão de mão aberta. Foi nesta altura que o Palminhas se mijou todo pela primeira vez.

Passados os primeiros dias de recruta, rapidamente aprendemos que viver na escola podia ser tão divertido como tudo o que fizéramos antes. E aprendemos imenso. Principalmente nos recreios e nos percursos casa-escola-casa. A parte pedagógica resume-se em poucos acontecimentos: apresentação dos TPC – distribuição de penas; cópia com desenho – mais umas estaladas e uns puxões de orelhas; ditado – 45 minutos de reguadas (havia pessoal que tinha mais de 50 erros por ditado; ora, 48 reguadas x 20 segundos por cada uma... bem, é fazer as contas); recreio (capítulo à parte); aritmética – mais porradinha; procedimento para a saída: cana por cima das orelhas e resposta rápida à questão, “8 x 6 ? Haa... 77!”, tau! “Ficas aí, que eu já cá venho outra vez”. E nós a vermos o pessoal que acertava a bazar, esperando que as 13h chegassem depressa e que o professor estivesse com fome. Tirando isto, pouco mais havia de relevante, a não ser as Provas (com factores adicionais de stress, como o manejo de uma caneta de tinta permanente e a gestão dos borrões), o termos que cantar músicas do Festival para podermos sair mais cedo (foi aí que se revelaram talentos como o Nogueira – mas esse já era irmão da Pandeireta, era genético – o Silvério – que tinha a melhor interpretação do Calhambeque – e o Rivotti, que iniciou aí a sua carreira artística.

Ainda dentro da sala de aula, alguns episódios merecem referência, pela sua relevância para o processo ensino-aprendizagem:

· a criatividade no uso dos materiais. O Rui Fafia “– Oh esnhor prufxor, poxir à cccasa de vanho, faaxavor?” O professor: “ – Faz na bota.” E o Rui, que talvez trouxesse os botins de borracha por causa disso, depois de sacudir a última gota, retomava: “ – Xástá! Poxir espejar?”

· As desculpas do Chiba para os proverbiais atrasos. “Fui ao leite!”, utilizada 346 vezes. “Fui ao pão!”, utilizada 2 vezes.

· As bolachinhas que o Janita levava para distribuir pelo people enquanto os cristãos eram sacrificados no estrado.

· Os planos do Diamantino para chegar à França de patins.

· As demonstrações de carinho do Marreco pelo professor: “senhor professor querido, não me bata mais.”

· As sessões de dinamização da leitura promovidas pelo Martelo: revista porno numa mão, cenaita na outra, o professor a chegar-se por trás dele e a agarrá-lo pelos fundilhos arrastando-o até ao cadafalso.

De todo o modo, balanço feito, penso não faltar à verdade reconhecendo que tivemos um grande professor, que nos ensinou bem, que sempre sentimos como justo, mais do que justiceiro, e que, apesar da facilidade com que transformava a nossa ignorância em consequências físicas, não nos deixou outras marcas para além do profundo respeito e boa memória.

Até jazz, para próximos capítulos.

Eu gostu muinto da nha excola

Publicada por Marinho On 26.3.09 2 comentários

Os meus apoderados, de 11 e 8 anos, têm vindo a tentar convencer-me a levá-los a assistir ao concerto dos Mind da Gap na nossa terrinha. Eu aos 11 anos sabia lá o que era um concerto... Se soubesse também quereria ir, acho eu. Estou bem capaz de ceder e levá-los lá, só para os ajudar a interpretar a música. Por outro lado, num concerto onde não se pode fumar e se calhar nem beber, as pessoas riem-se de quê?

Estive a ler o meu confrade A Besta, e depois de ter parado de rir, pus-me a pensar sobre o que senti quando lá voltei a entrar, há tempos atrás, numa condição diferente daquela em que lá continuei a ir desde os 18 anos: a de eleitor (enganado, roubado e enrabado, não poupemos nos adjectivos). Quando me dirigi ao gabinete do Cons.Directivo, sorri ao pensar a quantidade de vezes em que fui, acompanhei ou esperei alguém, aquela porta da toca do bicho mau. Vidros partidos por desamor ou acidente, banhos voluntários ou forçados no tanque, ofensas graves ou birras (geralmente dos professores), pastilhas no cabelo, porrada no pelo, ameaças de greve ou reivindicações... o cardápio de motivos que nos levava a visitar o justo homem que lá mandava era fino e sortido.

Enquanto me apresentava, e no percurso acompanhado até à sala em que iria dar a 1ª aula (como se houvesse algum sítio naquele Liceu que eu não conhecesse), ia pensando “eu nunca mais na vida me vou sentir professor aqui dentro. Continuo a olhar para esta escola e para as pessoas quase como aluno”. Nesse mesmo dia tive a primeira repreensão por estar a fumar no intervalo juntamente com os alunos.

Claro que a austeridade e o usufruto energético que nós dávamos aos equipamentos implicava alguma frugalidade e despojamento que já não está presente no Liceu de agora, muito Morangos com Açúcar. Mariquices como placards com informação e exposição de trabalhos, matraquilhos, televisão e 1CABINE DE RÁDIO (invejosos de merda), salinha sempre decorada à época, nenhum fumo no ar, são pormenores que só estragam o ambiente de que eu gostava: fumos no ar, a música eram as bocas que se mandavam, jogava-se ao alho com taxas de 90% de humidade para os acidentes poderem ser mais espectaculares, os poucos placards existentes eram fixes para nós escrevermos e por isso foram retirados, os matraquilhos eram os gajos mais pequenos, mais toscos ou irritantes, e a única vez em que a sala teve um arremedo de decoração foi quando pendurámos camisas de vénus cheias de água ao longo das janelas. Aquilo que hoje seria considerado topo de gama na criatividade, com claras aplicações ao nível da educação sexual e prevenção da sida, foi na altura barbaramente atacado e merecedor da mais veemente repreensão. O que na época foi por nós suportado com mais um encolher de ombros e os tais piretes dentro das calças de que fala A Besta, hoje talvez desse para requerer uma indemnização à escola por danos causados à criatividade e capacidade de intervenção social.

Depois admiravam-se que explodissem bombas!

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