Quem éramos? Desenhadores de futuros, desbundadores de circunstâncias, inventores de oportunidades. As tecnologias eram incipientes mas aguçavam a industriosidade: poucas horas de televisão, as quais serviam para fazermos o download de ideias para converter no my space das brincadeiras do dia seguinte. Quem não tinha TV (e havia muitos que não tinham) não lhe sentia muito a falta porque aquilo a que se brincava era uma reposição interactiva do que andava a dar ou tinha dado. Ao adaptarmos os “Pequenos Vagabundos”, a “Missão Impossível”, o “Skippy”, transpondo-os para o recreio da escola ou para o nosso campus playground, estávamos a dar a cor e a dimensão que faltava à TV para poder ser real (era a preto e branco, putos). Ao contrário de hoje, em que só é real o que aparece na televisão, in ilo tempore o que aparecia na televisão só era por nós entendido como real se o pudéssemos praticar. Essa operacionalização não era isenta de dificuldades, obrigando-nos a afinar “competências” que, pasme-se, é aquilo que se tenta ensinar hoje na escola (do J.Inf. à Universidade!). Na escola, aprendíamos cultura, conhecimento, os “conteúdos” hoje completamente desvalorizados e secundarizados, tipo saber ler, escrever e contar. No resto do muito tempo que tínhamos, treinávamos as “competências”, por nossa conta e risco, num autodidactismo criativo e saudavelmente contaminado pelas idiossincrasias de cada um de nós.
Esse exercício de competências podia passar por actividades tão diversas como identificar e descobrir os materiais apropriados para fazer de escudos e espadas, pistolas e canhões, adaptá-los e transformá-los, definição das regras do jogo (na qual se verificavam verdadeiras aulas de prática simulada de sistemas políticos: democracia, ditaduras diversas, iluminismo alucinado, autocracias sortidas e regimes musculados, de tudo se experimentava), leitura e desenho de coordenadas cartográficas, camuflagem e agit-prop, retórica discursiva (“ – Eu não estava a roubar fruta!”). Mas também, e principalmente, competências e destrezas físicas: saltar do 2º andar dos prédios em construção, a cores e ao vivo, deixava a “Missão Impossível” no cesto das mariquices; fugir a nó depois de se ter partido alguma coisa; resistência ao choque e capacidade de suportar a dor (inventámos a mosh antes de alguém a sonhar: o Ourx amontoava-nos uns por cima dos outros, geralmente com o cuidado de pôr os mais fortes por baixo, e depois calcava a acumulação de vítimas de cima da sua robustez maciça, até alguém ceder e pedir muita misericórdia); coordenação motora e desenvolvimento da lateralidade e esquema corporal (“ – Cuidado! Olha aí o PM do lado direito!” Se por acaso se olhasse para o lado errado, tunga! levava-se com uma calhoada na mona, e rápida e eficazmente se aprendiam todos os pontos cardeais), etc.
Por isso, como primeiro adjectivo para caracterizar esta bolha de génio humano que é o “NÓS” que nós somos, escolho “competentes”. Olhando para o núcleo duro e resistente do people, esse é o traço que mais bate nas vistas (tunga! “ – Lado DIREITO, tótó!”). Todos mostrámos competências para atravessar, esquivar, iludir, vencer, convencer, esconder, ceder, lutar, controlar, crescer, saltar, enrolar, cair e levantar. Para estar aqui. E criar: não posso disfarçar o orgulho de olhar para a nossa descendência e sentir que continuamos a ter fatias do futuro feitas por pessoas criadas à nossa imagem e semelhança (gostava que Deus fosse vivo para poder ouvir isto...). Miúdos competentes que eles são, caroço! E nós estamos uns homens! (e mulheres também; nem me esqueci, nem sou misógino: as mulheres merecem capítulo à parte)
Esse exercício de competências podia passar por actividades tão diversas como identificar e descobrir os materiais apropriados para fazer de escudos e espadas, pistolas e canhões, adaptá-los e transformá-los, definição das regras do jogo (na qual se verificavam verdadeiras aulas de prática simulada de sistemas políticos: democracia, ditaduras diversas, iluminismo alucinado, autocracias sortidas e regimes musculados, de tudo se experimentava), leitura e desenho de coordenadas cartográficas, camuflagem e agit-prop, retórica discursiva (“ – Eu não estava a roubar fruta!”). Mas também, e principalmente, competências e destrezas físicas: saltar do 2º andar dos prédios em construção, a cores e ao vivo, deixava a “Missão Impossível” no cesto das mariquices; fugir a nó depois de se ter partido alguma coisa; resistência ao choque e capacidade de suportar a dor (inventámos a mosh antes de alguém a sonhar: o Ourx amontoava-nos uns por cima dos outros, geralmente com o cuidado de pôr os mais fortes por baixo, e depois calcava a acumulação de vítimas de cima da sua robustez maciça, até alguém ceder e pedir muita misericórdia); coordenação motora e desenvolvimento da lateralidade e esquema corporal (“ – Cuidado! Olha aí o PM do lado direito!” Se por acaso se olhasse para o lado errado, tunga! levava-se com uma calhoada na mona, e rápida e eficazmente se aprendiam todos os pontos cardeais), etc.
Por isso, como primeiro adjectivo para caracterizar esta bolha de génio humano que é o “NÓS” que nós somos, escolho “competentes”. Olhando para o núcleo duro e resistente do people, esse é o traço que mais bate nas vistas (tunga! “ – Lado DIREITO, tótó!”). Todos mostrámos competências para atravessar, esquivar, iludir, vencer, convencer, esconder, ceder, lutar, controlar, crescer, saltar, enrolar, cair e levantar. Para estar aqui. E criar: não posso disfarçar o orgulho de olhar para a nossa descendência e sentir que continuamos a ter fatias do futuro feitas por pessoas criadas à nossa imagem e semelhança (gostava que Deus fosse vivo para poder ouvir isto...). Miúdos competentes que eles são, caroço! E nós estamos uns homens! (e mulheres também; nem me esqueci, nem sou misógino: as mulheres merecem capítulo à parte)
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