The 10 Coolest Foreign Words The English Language Needs
Means:
To pull a MacGyver.
This is the art of slapping together a solution to a problem at the last minute, with no advanced planning, and no resources. It's the coat hanger you use to fish your car keys out of the toilet, the emergency mustache you hastily construct out of pubic hair.
What's interesting about desenrascanço (literally "to disentangle" yourself out of a bad situation), the Portuguese word for these last-minute solutions, is what is says about their culture.
Where most of us were taught the Boy Scout slogan "be prepared," and are constantly hassled if we don't plan every little thing ahead, the Portuguese value just the opposite.
Coming up with frantic, last-minute improvisations that somehow work is considered one of the most valued skills there; they even teach it in universities, and in the armed forces. They believe this ability to slap together haphazard solutions has been key to their survival over the centuries.
Don't laugh. At one time they managed to build an empire stretching from Brazil to the Philippines this way.
Adoptada sem debate no Parlamento Europeu, entrou recentemente em vigor uma directiva da União Europeia que obriga os fornecedores de serviços de internet a conservar um registo de todos os emails e de todas as visitas a sites. Também os dados relativos a chamadas telefónicas e a mensagens de texto serão armazenados e deverão ser facultados aos governos, aos seus serviços e às autoridades locais. Sabendo-se como essas autoridades têm usado e abusado das leis antiterroristas, não é difícil imaginar o dano para as nossas vidas privadas. O Ministério do Interior britânico passa por cima do Parlamento, negociando directamente com a Europa, consciente de que, assim, as medidas que visa estabelecer não serão debatidas nem escrutinadas, sendo incorporadas na lei britânica enquanto directiva europeia. Uma boa maneira de tornar o Parlamento ineficaz e irrelevante. (do Guardian de 6/4/2009, original aqui).
Com o medo que a malta tem, de comentar neste espaço satírico tendencioso e conspirativo, agora é que ficam com pavor até de ligar o computador.
Tenham “tomates” digam e escrevam o que pensam, porque de outro modo, qualquer dia até de pensar têm medo.
Via Portugal dos Piqueninos
A propósito, recordemos um preto só um nadinha mais inteligente que o Kiki:
"Our lives begin to end the day we become silent about things that matter."— Martin Luther King, Jr.
Ainda, numa versão mais moderna e de lucidez tuga:
"Qualquer dia enrabam o ppl todo e o último ainda se vai queixar que não xega lá nada! Uga-se! Conas de sabão!" - A Besta
- Per'aí um coche. Mete a bola primeiro!
- Olha lá, oh normando, porque é que tens a liga no braço?
- Nesta equipa do Puorto num há nhum murcãoe com mais pinta d'omemsexual duquieu, caralhos ma fodam!
Se fosse o Kiki a fazer isto, tinha saltado a placa ao Giggs.
- Pica, pica, que aos miolos é que tu não chegas! Ah não! Com o Kiki, não vale!
- Oh Meireles, já chega! Agora sou eu a inverter o ónus da prova!
- Ai, ui, atira-me água fria! (dobrado por Rui Reininho)
P'raí 70/71, Estádio do Mar, sábado à tarde, jogo na TV: Leixões - U.Tomar.
Jogo duro à brava, os gajos tinham o Jacinto e o Leopoldo. O Ónião, a meio da 2ª parte, tem um canto a favor. O Kiki estava pastando cá atrás (lateral esquecido). O treinador manda o gajo acordar, ou subir, ou fazer qualquer coisa. Ele põe-se a correr (só quem o viu correr sabe o hilário que era) em direcção à área, o canto é marcado e a bola bate na cabeça do surpreso Kiki, que só queria que não houvesse complicações. Gooolo! Hã!? Quem?, oh sócio, eu não quero problemas!
Penso que terá sido o único golo na carreira do homem, mas valeu uma vitória.
Ganda Kiki! Manda a bola bem arta, sócio!
O sucesso dos OMOMV, apesar de meteórico e sobretudo metafórico, deixou-nos inebriados. Afinal aquilo de ser rockstar não tinha nada que saber: um par de tintins, uma cena qualquer na mão para não coçar os tintins, uma grade de minis e duas charruas. Isto era o chá para a atitude e esta era a mãe da auto-confiança. O resto era puro tédio a precisar de electricidade.
Na altura, 17-18 anos era a tábua de chamada para o salto para a adultícia. Não havia novas oportunidades, só velhas. Eu tinha acabado o Propedêutico (método de estudo inovador: 1 – acordar só um lado do cérebro; 2 – dirigirmo-nos à sala, com um cobertor; 3 – ligar a TV no canal com as lições do propedêutico; 4 – retirar o som à TV; 5 – Meter o Wish You Were Here a rodar; 6 – deitar no sofá, pôr o cobertor por cima, fechar os olhos e ouvir a matéria a desfazer-se contra os sonhos) e havia que começar a adivinhar o destino.
Por vicissitudes várias, tipo 15 dias sem os pais em casa e a estudar em grupo, o meu rumo em direcção ao estrelato jurídico ou da comunicação social, ficou comprometido por uma média amputada daquela parte importante referente ao estudo propriamente dito. Refira-se, em minha defesa, que os exames eram em Santarém e que costumávamos almoçar em Almeirim. Ora, 1 litro de tinto por cabeça, dispunha-nos de forma bestial para a Filosofia. Mas na altura ainda não havia genéricos, pelo que as outras disciplinas se ressentiram do princípio activo e da dosagem.
Como não havia Magalhães nem painéis solares para vender e Tomar já vogava na espiral descendente da sua ruína económica, o futuro tinha uma cor esquisita, tipo merda. Como músicos de bancada com vontade de também dar uns toques na chincha, éramos uma espécie de roadies d’O Trevo, outra banda dos anais de Tomar (o outro, famoso pelos anais, era o Kiki; tão famoso como o Reinaldo, mas aquele tinha um Porsche). Ao vermos aqueles pros a tocar, a desbundar largo, percebíamos que aquilo é que era: rockar de noite e curtir de dia.
Soubemos entretanto que uma banda da 2ª divisão procurava um guitarra, um baixo e um vocalista. A formação ainda envolvia um saxofonista militar, que tocava sozinho e queria ser maestro; um baterista incendiário (mesmo) e que só sabia tocar com os pés; e um órgão mentecapto que só usava uma mão. No casting tive que eliminar o Henry Bellevue, com uma interpretação arrasadora do “Tristeza, Por Favô Vá Imbora”.
Embora desconfiados da mix urbano-rural que se preparava, dos cheiros que o nosso tabaco deitava e das inclinações punk que dificilmente disfarçávamos, os três ex-OMOMV foram contratados em transferência livre por uma banda que, premonitoriamente, os labregos entenderam apelidar de STRANGE.
Impante da minha arte e ofício, anunciei em casa que a partir daquela hora passaria a viver do, e para o, rock’n’roll. Omiti a parte do sex and drugs, e em conjunto com o Slowhand Fak’s, montámos uma tenda de chill-in no defunto Parque de Campismo. Vivíamos lá, mas mantínhamos os laços familiares à hora da refeição (não há sopinha como a da mamã).
A primeira aparição foi num “baile das inspecções”, na Aula Magna da A.C.R. da Linhaceira. Ultrapassado o nervosismo inicial (curto; para aí umas 2h...), compreensível para quem tinha os pais e o irmão caçula a assistir, mais uma bruna que eu queria sacar, chegou o intervalo. Como os bailantes continuavam a embebedar-se alegremente e a dançar e tudo, percebi rapidamente que a aparelhagem de vozes jogava a meu favor, ao fazer com que a minha voz envidraçada saísse completamente atropelada pelos outros instrumentos. Isso contribuía para libertar a minha veia criativa, muitas vezes aperreada pela obrigação em fixar a densa poesia lírica decorrente de músicas como a já citada “Tristeza”, o “Chove Chuva”, o “Perompompero” ou o “Lady Laura”. Mais, havia músicas em estrangeiro, “Starway to Heaven”, “Another Brick on The Wall”, etc. Com a voz esmigalhada por uma espécie de vocoder embebido em ácido, apenas me preocupava em debitar a melodia o mais alto que conseguia, regando-a com as terminações das palavras ou profusos “eslaba washa, washa washa, spriva sprava, tazamburri...”
O intervalo era sempre a parte mais importante dos bailes: frango & beer à discrição, brunas a servirem os artistas (acompanhadas das mães) e jogo do descorta (“vou ali fora cagar, já venho”; “eh pá, per’aí que eu também ‘tou cheio de dor de barriga”; “cum caroço, atão os mens esqueceram-se do papel higiénico!? Vou lá levar-lhes um rolo”). Depois do intervalo, mais aliviados, e com o reforço de 2 grades de minis no palco para ir molhando a palavra, a entrada em palco era digna dos comícios do PS: “Paso Doble – Acid Remix”, em pose de spasticus autisticus. Esta versão dava para 15 minutos de continuous play, às vezes mais se o pessoal lá em baixo já andava engatado à porrada.
Com os quilómetros on the road, o nosso profissionalismo foi crescendo e fomos melhorando a nossa performance: já dominávamos sem problemas os pedidos do público (“aquela do hihó, põe o dedo no ó”; “a do silva pereira”; “a calona blanca, caralho! Não conheces a calona blanca!? Uma calona blanca, tãnãnã, foda-se! Porra, atão vou aí cantar eu”); eu desenvolvi a mesma capacidade do prof. Marcelo, ao ser capaz de cantar, tocar pandeireta e segurar as colunas em simultâneo, acompanhando os movimentos que a vaga de pessoal à trolha ia descrevendo, em estéreo; inventámos o wrestling-mosh, quando algum cabrão se metia com a nossa ganduia.
Só nos zangámos uma vez, numa festa de casamento, porque começou de manhã e porque a subida para os pavilhões da FAI foi feita a vapor e escalada, o que levou a que a moca fosse potenciada pelas endorfinas, e isso caiu mal ao Rollerando. A meio de uma música, deu duas broas no baixo e atirou-o para o chão. O público não percebeu a alegoria mas respondeu bem: sirva-se o almoço!
A nossa carreira ver-se-ia brutalmente interrompida por algo de inédito no mundo das artes e espectáculo: por causa de umas gajas. Tipo, eu troquei de namorada, abandonando uma seguidora de primeira hora e amiga do sargento, e a nova Yoko Ono não foi bem recebida pelos donos da banda, talvez por ser loira e ter big boobies.
As dissensões foram-se sucedendo a um ritmo techno, e eu apostei nas boobies em vez de apostar na arte. Foi pena. Se tivéssemos continuado talvez ainda pudéssemos ter tocado no grupo da Janja e papá-la, com o Escorbuto a fazer o som. Melhor que Mão-Morta.
Georgie Dan - Paloma aka Calona Blanca
Gracias Luí
Não sei porquê, mas sonhei com o Cavalo de Tróia esta noite. Quando acordei, com peso na consciência de todos os gozos que me permiti nas aulas da dita senhora, pensei para comigo que se algumas pessoas tivessem tido aulas com ela e com o Albukas, poderiam fazer melhor figura.
So,
Na sua mais recente visita aos Estados Unidos, José Sócrates e respectiva comitiva, hospedaram-se num luxuoso hotel.
Ao fim da tarde José Sócrates pega no telefone, liga ao serviço de quartos e diz:
- TU TI TU TU TU TU.
A funcionária não compreende o que quer dizer José Sócrates e, pensando que se trata de uma mensagem cifrada, avisa os seguranças do FBI.
Num ápice, apresentam-se dois agentes especiais do FBI que, postos ao corrente de tudo, mas não conseguindo decifrar a mensagem, decidem chamar a CIA.
Os serviços secretos mandam dois agentes ao hotel, os quais começam logo a investigar e a tentar decifrar a mensagem, mas sem qualquer resultado.
Entretanto, José Sócrates volta a telefonar e todos o ouvem repetir:
- TU TI TU TU TU TU.
Desesperados, os agentes resolvem recorrer ao tradutor oficial da Embaixada dos EUA, em Portugal. Este afirma a sua incapacidade para efectuar tal trabalho e recomenda o recurso ao presidente do Eurojust, Lopes da Mota aka Panela de Pressão. Uma equipa de SEAL's é posta no terreno, resgatando o indivíduo duma reunião de trabalho no Cabaret da Coxa.
Um caça supersónico do Pentágono desloca-se ao aeroporto de Figo Maduro, e o tradutor de recurso é conduzido, sem mais delongas, aos Estados Unidos.
Chegado ao hotel e posto ao corrente da situação, o Dr. tradutor disfarça-se de criado, pondo uma peruca, um bigodinho, um soutien e um cinto de ligas preto (já não pode ir para a Loja do Cidadão, quando se lhe acabar a mama) vai aos aposentos de José Sócrates e......descobre o mistério:
O Primeiro-ministro português queria dizer, no seu esmerado inglês técnico :
- TWO TEA TO 222 !!!!
se não contarem esta anedota a 10 pessoas, terão mais 4 anos de azar com Sócrates a Primeiro-Ministro.
Recordo-me vagamente que o nosso Slowhand já demonstrava algum jeito para a arte de ter cérebros na ponta dos dedos, embora a maior parte do tempo em que a guitarra era carregada fizesse parte do dragstyle, do arsenal de ferramentas usadas para galar e prender as brunas. A estratégia da aranha e a pele do camaleão, como o Zappa.
Ora é sabido que onde mija uma viola, mijam logo duas ou três. No caso, uma. A do Rollerando, que já era maquinista de primeira e rei das malhas. E assim surgiram as primeiras jams. Eu, que só sabia cantar o Wish You Where Here, abanava a cabeça e dava a mão às brunas. Na altura ainda não conhecíamos o Augusto Santos Silva senão ter-lhe-íamos pedido para ser o nosso malhador. Portanto, tivemos de nos contentar com o Homónimo Violinha, rapaz com duas paixões: os helicópteros, que o faziam abandonar fosse o que fosse que estivesse a fazer só para poder olhar para cima, e os lápis ou canetas. Dois, sempre. Tac tac tac toc tac tchak tchok, sempre.
Durante essas jams e outras que se foram partindo, sempre com o Slowhand a puxar a locomotiva, nascíamos da busca das linhas de viola e baixo que os dedilhadores eram capazes de sacar. É aqui que entram os Devo. Bastaram-nos 2 ou 3 audições do Q – Are We Not Men. A – We Are Devo, para ficarmos com o Gut Feeling atravessado. Não escolhemos os Devo por os acharmos particularmente interessantes, mas sim por serem simples, fáceis e orelhudos.
Assim, depois de profícuos jogos de cintura e angariação de recursos (but’aí descarregar um camião, mens?), conseguimos alugar por 1 mês um kit banda estreita completo: violas, bateria, amplificador, colunas, micros e aparelhagem de vozes com câmara de eco e tudo e tudo e tudo. O material pertencia a um pinta que estava a desformar uma banda, e que também nos emprestou local de ensaio: um sótão no campo. O ideal para um grupo de folk, algo desajustado para nós, guerrilheiros urbanos.
Depois de 3 ensaios, algumas dezenas de zurgas e broncas, conseguimos alinhar, que me recorde, 4 músicas para siderar as almas que se atrevessem a ouvir-nos de frente: um blues que já não consigo identificar, uma malha dos Ramones desacelerada e transformada em slow, o Gut Feeling e a Morte do Polícia, uma criação punk dedicada ao ZéMen.
A falta de potência do equipamento não nos permitiu fazer explodir os vidros logo à primeira descarga, como tínhamos planeado, mas isso não fez esmorecer o nosso entusiasmo. No último dia de aulas, depois de termos ido para as aulas de pijama (seu Atílio e o estrume de vaca, remember?), vestimos os nossos trajes de luces, e tomámos conta do palco e da sala de convívio como se tivéssemos nascido para aquilo.
Eu, com o casaco assertoado do casamento do meu pai, a segurar no papelinho com as letras, e valendo-me da falta de potência da aparelhagem e da fita da câmara de eco que enrolava e mastigava a voz, para que as pessoas não percebessem puto do que cantava; o Slowhand e su camisa blanca, ora atacando o público em pose pitbull ora votando-o ao desprezo completo virando-lhe os costados; os outros, pelo menos penteados iam, o Rollerando a cavalgar o bacalhau e o Violinha a olhar para cima, concentrado, a ver se ouvia algum helicóptero. Foi uma desbunda, arranjámos quase tantos admiradores como inimigos, tivemos direito a um encore e, nesse final de noite, tivemos o primeiro encontro com o pássaro da ganza fria.
A partir do retumbante êxito já florescia aquilo que viria a ser a primeira superbanda de hip-dance-rock do séc.XIX: os Strange. E outra verdade nos fulminou naqueles momentos orgásmicos: não interessa o tipo de merda que faças, desde que o faças com convicção e fiques limpo no fim. Faço acompanhar esta posta com uma banda sonora adequada para o que fizemos, o que éramos capazes de fazer e o que teríamos feito se...
Atendendo ao êxito da sondagem anteriormente realizada (tivemos 4 votantes, o dobro do que se espera para as europeias), o gabinete de imprensa do senhor engenheireiro contratou-nos para fazermos todas as sondagens até ao Natal. Chamo por isso a V. atenção para participarem na actual pesquisa, e não se esqueçam que estão a ser filmados. Quem não votar não recebe Magalhães, nem apoios do Estado, nem um saquinho de plástico e um lápes. (Ouviste men, um lápes! Nunca sabes onde é que enfiaste o teu, por isso vê lá se perdes esta oportunidade).
A bem da nação-e
Porque há para aí uns mens a passarem por crises de inspiração literária, aqui vão alguns bons conselhos para a "escriva".
Possibilidades para uma boa redacção
1. Desnecessário se torna empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado, conforme deve ser do conhecimento de V. Sa. Outrossim, tal prática advém de esmero excessivo que beira o exibicionismo narcisístico.
2. Evite abrev., etc.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. "não se esqueça das maiúsculas", como já dizia carlos machado, meu professor lá no colégio nuno álvares, em tomar, cazaquistão.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out, palavras de origem portuguesa estão in.
8. Seja selectivo no emprego de gíria, djô, mesmo que seja bacano.. Topas?
9. Palavras de baixo calão podem transformar o seu texto numa merda do caralho
10. Nunca generalize: generalizar é sempre um erro.
11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar repetitiva. A repetição vai fazer com que a palavra seja repetida.
12. Não abuse das citações. Como costumava dizer o meu pai: "Quem cita os outros não tem ideias próprias".
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes, isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez. Por outras palavras, não fique repetindo a mesma ideia.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Corta!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Use a pontuação correctamente o ponto e a vírgula especialmente será que já ninguém sabe usar o sinal de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Nunca use siglas desconhecidas, conforme recomenda a A.G.O.P.
21. Exagerar é 100 milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-las-ei!"
23. Analogias na escrita são tão fúteis quanto um par de cornos numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! O seu texto fica horrível! A sério!
25. Evite frases exageradamente longas, por dificultarem a compreensão da ideia contida nelas, e, concomitantemente, por conterem mais de uma ideia além da central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçando, desta forma, o pobre leitor a separá-la em seus componentes diversos, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Coidado com a orthographia, para não desturpar a língua.
27. Seja incisivo e coerente. Ou talvez seja melhor não...
(Autor desconhecido)
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Sapatilhas de Corrida
Duas brunas à nossa frente, com risinhos de primavera. “Eia men, ganda cagueiro! Vai lá ver se a cara é fixe”. O Juka, com aquela pose de cavalheiro a Viagra, passa-lhes à frente e começa a falar italiano com elas. Vira-se para nós e faz-nos uma careta tipo “se puseres vinagre e muito sal, escapa”. O Fak’s, galante e decidido a dar uma oportunidade às ganduias, manda uma babouge: “Chuchus, but’aí curtir c’ pessoal, minhas!” Elas voltam-se para trás, vêm a pandilha já com baba nos dentes e arriscam um desconfiado “olha, tem a mania que é parvo!” O Fak’s, educadamente, para não ferir susceptibilidades, rosnou “e tu parece que engoliste um saco de treps!”. Apesar do seu cuidado, a menina sentiu-se ofendida e respondeu-lhe. “Isso és tu!”
Dez ou quinze gargalhadas depois, o Bazinho detectou um grupo de borboletas com ar de precisarem de guia turístico. “Olá princesas! Então e tal, és daonde e não sei quê? Vocês são muita fixes! Quando é que se vão embora? Podemos ir com vocês e tal? Dás-me a tua morada? Queres vir ali ver uma cena fixe no jardim?” O Bazinho tinha sempre que dizer, “queres que te compre um geladito?”, o que raramente ajudava.
Mas naquele dia as brunas até estavam a dar bola ao pessoal. Fomos acompanhando as nitas até ao autocarro, e elas sempre a derramar dengo. Entraram lá para dentro para nos darem os números de telefone, e o Juka e o Bazinho seguiram-nas para ver se havia mais brunas e tal. Mas aquilo correu mal. As mulas mudaram de atitude e queixaram-se de que as estávamos a molestar. O Juka (calm’aí ó mister!) e o Bazinho foram expulsos à má fila por um cota latagão com uma espécie de taco na mão. “Baza men, as fatelas quilharam-nos!”
Éramos jovens e lidávamos mal com a frustração, principalmente o Juka que era o mais velho. “Putanas! Coglione! Vendetta! Per’aí que eu já os fodo! Pessoal, vamos fazer uma vaquinha para comprar uns ovos e atirá-los aos cabrões!” “Ya men, ganda ideia caroço! Tom’aí 10 paus.” Lugar de Frutas, uma dúzia de ovos faxavor. O olhar desconfiado da senhora que nos vendeu os ovos não conseguiu adivinhar o drama que se desenrolaria à frente do pacato estabelecimento.
Com a tensão própria dos grandes golpes, aguardámos pacientemente que o alvo se apresentasse a jeito. Todos tínhamos ovos na mão, mas antes de qualquer um, o Juka saltou para o meio da estrada, fez alto com o braço, vociferou mais uma italianice e, tchrraap! Bruta escarradela de albumina, casca e gema mesmo no meio do pára-brisas do autocarro. Durante uns segundos, o tempo como que parou naquele quadro, tendo o Bazinho aproveitado para mandar também o seu ovo contra as janelas do machimbombo. Acordámos do transe com a buzinadela do autocarro e a porta a abrir-se e a mostrar a ponta do pau do cabrão.
“Eia c’um catano! Baza men, corre caroço!” Como era domingo, esquecemo-nos de uma parte importante do plano: a retirada. Atrás daquele que partiu primeiro, arrancámos a speedar pela Rua do Camarão acima, virámos à esquerda e depois na primeira à direita. Direitinhos à PSP. “Men, trava! Disfarça, caralho!” O inga que pachorrentava à porta da esquadra despertou levemente do torpor mas não se surpreendeu com o nosso ar esbaforido e paranóico, “... Puf, puf... Boa tarde xô guarda!” Só quando viu o troglodita com o pau na mão lá ao fundo, a chamar-nos coisas doces, é que percebeu que os putos deviam ter armado alguma. Mas era domingo, à tarde, solinho e tal. No problema, man.
Quando ele decidiu que tinha que fazer a sua parte, e arrancou pastelosamente em nossa perseguição, deparou-se-nos um espaço no qual se estava a fazer uma obra e que tinha um talude de madeira para aí com uns 10 metros de altura! (isto era o que eu diria se fosse o Lipinho, que é pescador) Pronto, vá lá, p’raí uns 2,5m. Mas mesmo que tivesse 10, com o gás com que nós íamos, treparíamos sempre aquela cena, porque o medo era o Red Bull da época. Batido o recorde mundial de salto colectivo em altura, ficámos só a mais uma escalada da estrada do Castelo, a salvação. Aquele era um território bem conhecido por nós, com todos os esconderijos e passagens secretas cartografados por dias e dias de exploração e desbunda. Embrenhámo-nos pelos atalhos e escondemo-nos na Moita da Curva, na estradinha antiga que ia lá para cima. O carro da Nívea ainda passou para cima, depois para baixo, mas a não ser a nuvem de fumo que saía da moita, nada revelava a nossa presença.
Já relaxados e refeitos do esforço, confiantes de que os burgessos já teriam regressado à santa terrinha, descemos de novo à cidade, para terminar a caçada dominical. Por essa altura tínhamos regressado há pouco tempo de Torremolinos. O Juka tinha trazido umas Adidas altamente, azulinhas e riscas laranja, e andava todo vaidoso em cima delas. Estava sempre a gabá-las:
– São bué de confortáveis mens. São impermeáveis. Têm uma sola especial antiderrapante e esta grossura aqui, tázaver? Dá bué de implulso nos saltos!
– Ya men, eu digo á gorda...
– Djô, se são assim tão boas salta lá aqui a vala do Hotel de um lado para o outro!
– Ya, mostra lá a cena! Vá lá men, tu consegues! - Diga-se que o Juka não era muito musculoso, mas era extremamente rápido e ágil.
– Então, caroço! Não me digas que tens medo que as sapatilhas não aguentem... Vá lá, men, não sejas pé-de-salsa.
O Juka, confiante (afinal a vala tinha apenas uns 2 ou 3 metros da largura; quem subia candeeiros como ele não tinha nada a recear), aceitou o desafio: “Pindéricos! Já vão ver o que é potência e segurança. La maraviglia de la tecnologia alemana, echo sfragate!” Concentrou-se com aquelas gargalhadinhas tipo Juka (“MhééêÊ! HmêÊéé!), tomou balanço e arrancou decidido como um corta-relva. À medida que via o abismo a aproximar-se a hesitação tomou-lhe conta do computador de bordo, o ABS desligou-se, e no esforço desesperado de travagem as bellíssimas Adidas foram deslizando estilosamente pela relva, direitinhas à água com o Juka agarrado.
– Wow! Men, altamente! Faz lá a cena outra vez! Alta moca de sapatilhas, djô.
Passámos o resto da tarde sentados num banco do jardim do coreto, a comer gelados (Rajá), observando as pessoas a terminar o seu passeio de domingo chocadas com o quadro montado pelo Juka uns bons metros afastado de nós: de cócoras nas costas do banco em pose de pensador, só com as cuecas, com toda a roupinha e as fulgentes sapatilhas estendidas na base da palmeira, enquanto ia resmoneando pragas em italiano.
Após mais um domingo passado, outra verdade se nos havia revelado (como é que nós não havemos de ser espertos! Com tantas revelações somos quase santos...): a tecnologia é o olho do cu da ciência.
Imagens palmadas daqui. Visitem!
Vick e o Grande Rapto
Cada vez mais me convenço que a nossa jovialidade actual e estado de conservação, apesar da exposição a todos os químicos e produtos alimentares na lista negra (“eh pá, isto mata burburés de células no cérebro, men!”; “but’aí fazer mais uma sandes de manteiga com açúcar”, ou “dá-me aí um guardanapo de papel para ensopar com maionese e chupar”), devia ser objecto de um case study.
Isto já o pai do Fak’s tinha premonitoriamente intuído ao destacar um amigo psicólogo, adulto jovem e responsável, para tentar perceber e acompanhar a nossa dinâmica comportamental e grupal. Era o Vick, bigodinho à malandro, um bocadinho catatau. A ideia era boa, inteligente, assertiva, mas condenada ao falhanço: tentar perceber adolescentes, o que pensam e porque é que pensam e fazem assim, sem se ser adolescente, é algo academicamente viável mas operacionalmente impossível. Ainda por cima éramos nós!
Persistente e paciente, mereceu de nós a atenção e simpatia devida a um gajo que tem tintins para tentar vir-nos esdrublar a cabeça sem perceber que estava a meter-se numa espiral que o poderia conduzir “à beira da lóócora!” Assim, acompanhou-nos nalgumas noites de vadiagem e de discussões metafísicas na Barra.
Acho que percebeu rapidamente que éramos uns putos perigosamente saudáveis e de mente expandida, e de vítima potencial acabou por transformar-se num gajo bacano, um avila. Essa confiança tê-lo-á levado a convidar-nos para o acompanharmos numa actividade que pensava ser uma boa experiência para um grupo de jovens como nós: apoiar/acompanhar um grupo de crianças do ensino básico num acampamento de férias. Se bem me lembro (sectores do disco danificados), o Fak´s, o Bazinho e eu aceitámos o desafio. Preparámo-nos com entusiasmo e alto alcance estratégico: o primeiro a providenciar era a segurança pessoal do pessoal. Armas, portanto. O Fak’s e eu arranjámos 2 facas de mato (a do meu pai estava um coche ferrugenta), os Cottis arranjaram uns metros de corda grossa, mas, naquela época, uma corrente é que era! Até era assim um coche punk e tudo. Tínhamos de arranjar uma corrente!
– Oh men, eu sei onde é que há uma muita boa!
– É boa, mas ééé a 6,5!
– Não men, a sério, a corrente que prende o barco no Hotel, tazaver?
– Eia men, pois é! Bute fazê-la!
O plano foi cuidadosa e engenhosamente preparado. Eu saquei um alicate universal, uma chave de fendas e um martelo ao meu pai, descortei-os num saco, e na noite do dia D, lançámos o raide. Eu, o Fak´s, o Bazinho e o Ssekou fomos avançando por dentro do jardim do hotel (no tempo em que aquilo era tudo nosso). O sítio em que desenvolveríamos a operação tinha apenas duas entradas/saídas e o rio como possibilidade de evacuação. Portanto, escalámos dois vigias para as entradas (aquilo era tudo nosso, mas havia guardas para melhorarem a experiência lúdica), o Bazinho e o Ssekou, enquanto eu e o Fak’s tentávamos desatarrachar a merda da corrente, que dizia que com aquelas ferramentas nunca sairia dali. Quando finalmente conseguimos identificar a porca que tínhamos de desapertar, e estranhando o silêncio dos vigias, que estavam sempre a enervar-nos sussurrando “então essa merda ainda não está?”, olhámos para as saídas e pareceu-nos tudo normal excepto o tamanho do vulto que deveria corresponder à silhueta do Bazinho. “Bábá, com’é? ‘Tás a controlar?”, dissemos. “Mas o que é isso!?”, respondeu a voz do guarda. “Baza, meu, baza!” e foi só o tempo de meter as ferramentas no saco e disparar pelas escadas da outra saída. Depois foi aplicar os treinos a que o prof. Marreiros nos obrigava e dar de frosques a toda a brida, até porque o guarda era coxo mas veloz e ia gritando bem alto o que nos faria se nos apanhasse. Encontrámos o Bazinho e o Ssekou já cá fora, mas face à proximidade do persistente perseguidor decidimos separar-nos. Eu era o que tinha a situação mais comprometedora já que transportava o saco com as ferramentas, o que me tornava facilmente identificável. Ainda cheguei a pensar em desfazer-me do saco mas seria preferível lidar com o guarda do que com o meu pai quando desse por falta do material. Assim, iluminado por uns quantos filmes que já tinha visto, decidi fingir que tinha um braço ao peito, desenfiando-o da manga e colocando-o por dentro da camisola, conseguindo assim camuflar o saco das ferramentas. Foi receoso e com o braço partido que entrei no Silêncio, para ir ter com o resto dos assaltantes e com mais alguém que lá estava, já não me lembro quem. Depois de uma hora a dar na cabeça do Ssekou por ter avisado da aproximação do guarda tão baixinho que ninguém ouviu, a beber umas bejekas e a ir ao lado do bilhar dar umas passas, achei que já não havia perigo de sermos catados e fui à casa-de-banho reconstituir o braço. Quando fui ao balcão para pagar, o sr. Silêncio olhou muito espantado para mim e perguntou-me se eu não estava com um braço partido. “Ah, isto agora já está bom!” O homem ficou a abanar a cabeça e a confirmar que o mundo estava mesmo perdido.
Ah, e sempre levámos uma corrente, mais modesta e fina do que a anaconda do Hotel, mas corrente quand-même.
O Vick era prof. Primário numa terrinha ali para os lados de F.Zêzere. Interior alcoolicamente profundo, com a maioria dos putos a nunca ter visto o mar. O projecto, dispondo de umas coroas do que é hoje o IPJ, consistia em acampar uma semana com a turma dos miúdos do Vick (para aí uns 12, de 7 e 8 anos), 3 miúdos da Casa Pia (hélas!), 3 monitores voluntários (nós! Monitores, hem, não era uma merda qualquer! ) e, vá-se lá saber porquê, 3 professoras colegas do Vick, que não cheguei a perceber se era ele que as queria papar ou se eram elas que nos queriam papar a nós.
Os procedimentos burocráticos foram todos devidamente tratados e fomos autorizados pela Câm.Municipal a acampar na zona da Pinhoca, mesmo por cima do Bambi. Convirá referir que era exactamente naquele sítio e naquele período que a UEC (União dos Estudantes Comunistas) da Mª Grande costumava realizar o seu acampamento de Verão. Mas como nós nos levantámos primeiro tivemos direito a calçar os sapatos.
O Fak’s, que sempre pensou mais depressa do que nós, teve um rasgo de criatividade estilística, extravasando o seu talento para o desenho, e personalizou com um lifting rasgado as mangas da sua camisa branca preferida. Mas o verdadeiro toque artístico decorria da pintura cuidadosa e imbricada de uma cruz gamada, e em que a inscrição “Inri” tinha destaque. Tivemos algumas discussões acerca do símbolo ser aceitável ou não, mas só o Ssekou não cedeu às explicações irrepreensíveis em termos culturais e filosóficos dadas pelo Fak’s. Até o Vick teve que ceder à argumentação. E a camisa mandava mesmo um altastyle, man.
O acampamento era composto por um círculo de 5 tendas, daquelas grandes, tipo tropa. Quatro albergavam os acampados e uma era ocupada com os mantimentos. No primeiro dia, ainda sem os alunos do Vick, depois de montarmos as tendas, fomos à praia com os 3 putos da Casa Pia e com um gajo mais velho do FAOJ, um tal de Cadima, que tinha lá ido levar o material e os mantimentos. A aventura na praia já foi superiormente relatada no ZeLibanho, aqui. Vale a pena ir lá ver porque é importante para perceber a sequência de acontecimentos.
Como diz o nosso confrade, deslizámos dali para fora face às ameaças de reconstituição anatómica que nos tinham feito. Fomos acabando de nos vestir à medida que íamos deslizando. O Fak´s, previdente e cauteloso, trazia consigo a sua faca de mato. Como não era uma faquita ferrugenta como a minha, mas sim uma coisa profissional, podia dizer-se que dava um bocadinho nas vistas. Portanto, para não causar invejas desnecessárias, o Fak’s descortou-a dentro das calças, junto à alma do criador.
Os pescadores estalinistas que tinham corrido connosco armados de catanas e caçadeiras (isto é verídico, man!) ou outros bufos que nos andavam a micar, devem ter domado a cena e foram-se chibar a um inga que estava na praça central por cima da praia. O simpático homenzinho dirigiu-se a nós e perguntou-nos onde é que estava a Faka (o Fak’s nessa altura ainda não era Fak´s, era só Pek’s, senão ter-nos-íamos partido a rir). Nós, “ó xôr guarda, mas qual faca? A gente não tem faca nenhuma!”, mas havia algum desconforto, principalmente por parte do gajo do FAOJ e dos putos da Casa Pia que tinham menos experiência policial do que nós. Assim, o Fak’s lá se aliviou da cena (olha, fáca-mos meu) e o xôr guarda disse que ia tudo preso porque aquilo era uma arma branca e nós éramos menores e que estávamos lixados e o caraças. Como já não éramos virgens no relacionamento com a polícia acompanhámos ordeiramente o xota à esquadra, onde a nossa argumentação responsável nos permitiu convencer a bófia a deixar-nos ir e aguardar pela chegada do prof. Vick (eh pá, era Vick ou Vaique? Tenho as “bálblas” a bater). A faca ficou a lanchar com os ingas.
Quando o nosso guardião chegou, com as ninas e os putos, e tomou conhecimento da primeira armadilha, viu-se uma sombra de dúvida a toldar-lhe os olhos claros. Pacientemente (ganda psicólogo, caroço) lá apelou ao bom-senso dos polícias e negociou a libertação da faca de mato. Mas até ele achou estranho o procedimento da polícia para com um grupo de putos como éramos. O gajo do FAOJ, que era para ficar a semana toda, deve ter ficado impressionado com o primeiro dia e raspou-se logo no seguinte.
Nós não, achámos que aquilo era o prenúncio de uma semana a partir. O dia-a-dia dos monitores no acampamento decorria calma e pachorrentamente: alvorada, com treino de esfaqueamento de pinheiros e lançamento de facas, dança marcial com cordas e correntes e manifestações de agressividade sortida. Pequeno almoço (não me lembro puto de preparar as refeições, a não ser cortar feijão verde com a faca de mato. Deviam ser as brunas que faziam a sopa. Só me lembro do Bazinho, como era o mais pequeno, assaltar a tenda dos mantimentos para trazer sumos e bolachas). Praia ou piscina com os putos (S.Pedro era a Cascais da zona centro, bué de tias. Imaginem o sucesso que fazíamos ao atravessar a vila com o nosso grupo de pequenos duendes sujos e orelhudos, todos com a roupa voltada do avesso, vestida da frente para trás e com os sapatos trocados. O culminar do choque cultural acontecia na piscina, chiquérrima, com os nossos putos com cuecas, nos primeiros minutos, e sem elas no resto do tempo. A gritaria e o ranho pendurado tomavam conta do recesso da gente fina, e nós, depois de arranjarmos um sítio onde pudéssemos ver e não ser muito vistos, e abrigado do vento por causa da mix, ficávamos a olhar para a desordem causada pelo bando de pardais com a mesma beatitude com que olhamos para os nossos juniores). Almoço na base. Sesta para descanso ou relaxamento (relaxamento, men. Passa aí!) Mais um coche de desbunda. Jantar na base. Bocas para dormir. Xixi cama para as crianças. Bambi para o resto do ppl. Já não me lembro se ficava alguém responsável no acampamento, mas acho que não.
O Bambi era um café normal de dia, bem, normal não. Era um bocadinho janado. Mas de noite tinha uma disco a funcionar que era o tip top da altura. Íamos lá todas as noites. A única preocupação que tínhamos era ir pôr um dos putos a mijar, por volta da meia-noite. O gajo nem chegava a acordar, coitado. Ficava era cheio de resina no pijama por nós o encostarmos ao pinheiro. A outra preocupação era tentar sacar umas garinas, mas as profes faziam-nos marcação em cima, foi por isso que não percebi se... Parecia que estávamos na disco com as nossas mães ou o caroço.
Após uma noite em que tivemos que montar guarda ao acampamento e chamar os nossos amigos polícias por causa de um gajo que ficou trombudo por levar tampa de uma das profs e pôs-se a ameaçá-las com uma pistola e não sei quê, acordámos para o nosso vigoroso e estridente exercício matinal, no qual os putos nos acompanhavam com gosto. Aliás, o facto de todos os dias fazermos o nosso desfile berrando canções infantis como o “nós só queremos cuecas amarelas” e outras acabadas em ões e alho, de terem agitação nocturna garantida (na noite da primeira ameaça montámos um perímetro de segurança com o pessoal armado com machadinhas, martelos e pedras. Delirante!) e de poderem brincar com uns gajos ainda mais malucos que eles, fazia com que os putos nos adorassem. O Vick estava contente. Com o facto de nos adorarem, não com o resto.
Mas esse dia normal haveria de se mostrar longo e dramático: foi o dia da noite do Grande Rapto. Fomos ao Bambi, como de costume. Por acaso o Fak’s não levava a sua camisa de estimação, embora a usasse com frequência. Tomámos café e pusemo-nos na bicha para entrar na disco. Quando estávamos quase a entrar, o Fak’s lembrou-se que não tinha tabaco e ficou para trás para ir comprá-lo. Fomos entrando, e para aí uns 20 minutos depois o Fak’s ainda não tinha entrado. Pensei que o mano tinha sacado alguma ganduia lá fora. “Macaco do caroço!”, disseram os dois invejosos de merda de serviço, eu e o Bazinho. Daí a momentos, o porteiro do Bambi, que era um bacano, veio-nos avisar: “O vosso amigo foi preso pela Judiciária!” Hã!? Judiciária? Mas porquê? Como? Saímos para fora da discoteca (que tinha polícia à porta) e tentámos perceber o que se tinha passado. Ao que parecia, quando o nosso amigo estava na bicha para entrar, dois indivíduos abeiraram-se dele, encostaram-lhe uma arma às costas, e obrigaram-no a acompanhá-los. Meteram-se numa carrinha e bazaram... Pânico e estupefacção. O Vick estava lívido e as profs cacarejavam menos que o costume. O bófia era uma bela peça de estatuária: não tinha visto nhuntz, não sabia nhuntz. O Vick e eu e mais uma prof, fomos à polícia para saber se havia conhecimento de alguma acção da Judite na zona. “Judiciária?! Nhããaa! Não anda por aqui ninguém deles”. Então?!!! Comunicámos o desaparecimento e regressámos ao Bambi. Já se tinha instalado uma razoável confusão à volta do acontecimento e havia uma quantidade de ppl nas escadinhas e na estrada. A maior parte pessoal das motas e janadex. Às tantas, um gajo com um ar um coche beto puxou-me para o lado e disse-me “Oh pá, o vosso amigo não foi nada preso. Quem o levou foram os gajos do PC da MªGrande. Eu sou de lá e conheço-os”.
Quando a bomba estourou, o Vick deu algumas instruções rápidas e foi à polícia e daí direito à Mª Grande, para tentar aclarar a situação. Nós ficámos de guarda ao acampamento e aos putos. Pela segunda vez, puderam dar asas à sua fantasia e montarem guarda e protecção armada. Entretanto alguém nos veio avisar que a carrinha que tinha levado o Fak’s estava ao pé do Parque. Alguém foi chamar o bófia do Bambi (o Ssekou também lá estava? Suspeito que sim mas não tenho a certeza) e o ppl que por ali estávamos fomos a correr tentar interceptar os comunas. De facto conseguimos confrontar um gajo que devia estar a tentar recolher informações sobre a evolução da cena. Fomos tentando apertar o gajo, mas ele tirou uma coisa do bolso que parecia uma fusca e ameaçou-nos. O que valia é que o bófia esbaforido já lá vinha. Ainda parou uma vez ou duas para apanhar o boné e quando confirmou que havia crise e que já não poderia fugir dela, puxou de um punhalito tipo faca do queijo para se defender daquela gente doida. O comuna quando viu o xota disse que disparava, o bófia parou para cagar e o gajo bazou para uma carrinha WW e piraram-se. Caralho, toninhas do polícia. Tínhamos armas melhores do que a dele...
Frustrados, regressámos à base e pusemos os miúdos ainda mais exultantes dizendo-lhes que estávamos cercados por terroristas armados. Nessa noite o puto das mijas nem se encostou ao pinheiro. Perspectivava-se uma noite de directa o que é sempre motivo de festa. O pessoal das motas aproveitava para andar a acelerar bué e a fazer estrilho, na base de que se andava à procura de um gajo raptado pelos comunas. Quem ficava em terra ia bebendo umas bujas graças à boa vizinhança do Bambi e pudemos conhecer alguns cromos de colecção: o Melquíades aka Melkits e o Pardal aka Passarinho. Altamente janados, fizeram companhia ao Bazinho e a mim (e o Ssekou? ...), e estiveram montes de tempo a discutir se valia a pena experimentar atirar um cigarro para dentro do depósito da mota do Melkits...
Passadas umas horas, já um bocado fartos dos números do Melkits e do Passarinho, aparece-nos a vítima, vindo do lado de dentro do acampamento. Ficámos chateados por ele ter furado o perímetro de segurança, mas o alívio por o ver vivo e aparentemente sem ter sido lavado ao cérebro superou tudo o resto. Do que se passou realmente e do cativeiro do Fak’s, vou ficar à espera que ele nos conte. Da festa que se seguiu posso recordar a solidariedade e animação do resto do ppl que acompanhou a espera connosco, tendo a cerveja e outros consumos passado de mão em mão. Da última coisa que me recordo é de estar a dormir vestido, numa tenda duns gajos do Porto, e um deles meter uma mota lá dentro , acelerar, encher aquilo de fumo, fechar o fecho da tenda pensando que assim me obrigaria a acordar. Tu é maluco, men. Eu já era gazeado há uma temporada, não era aquele fumito que me ia roubar o sono.
No dia seguinte, tratadas as diversas formalidades legais pelo aliviado Vick, nós, os senhores monitores, fomos tomar café ao Bambi de manhã. A polícia tinha autorizado e até recomendado que andássemos com o nosso arsenal, e as cordas, correntes, facas e machados faziam-nos sentir heróicos e invencíveis. Mas o Fak’s, com a sua camisa-manifesto, era o centro das atenções, e teve direito a café de borla! Como a nossa segurança estava ameaçada, foi-nos recomendado retirarmos estrategicamente, porque havia muitos comunas na MªGrande e estavam danados connosco, nazis da pior espécie que lhes tinham ocupado o espacinho gostoso.
Assim, foi de forma absolutamente gloriosa e triunfal que entrámos em Tomar, num autocarro da polícia, com os putos todos com a cabeça de fora e a gritar: “o povo unido, jamais será vencido”, “viva a liberdade”! A surpresa foi geral mas o efeito foi bonito. E aprendemos uma verdade fundamental, que afinal são duas: nunca se deve mijar contra o vento nem encostado a um pinheiro.